Durante toda a ocupação nazista em Paris, um minúsculo apartamento a poucas quadras da catedral ortodoxa russa da Rua Daru fervilhava de emoção e perplexidade. Sem alarde, as janelas permanentemente cobertas com tapetes aderiam ao blecaute obrigatório e lá dentro perdia-se a noção do tempo. Havia um Mestre. Pouco ou nada se sabia sobre ele, mas aquele em quem ele pousasse os olhos ou a quem dirigisse a voz uma só vez era marcado para sempre. Era impossível vê-lo e esquecê-lo. Assim como era impossível vê-lo e não ver-se a si mesmo, tocado por uma varinha mágica — que ele chamava de “consciência”. Encontrá-lo era encontrar-se a si próprio, ainda que por um breve momento. Talvez este tenha sido o motivo de ser ao mesmo tempo tão amado e tão temido. Ver-nos a nós mesmos é o legado que nos deixou — um legado difícil, assustador e, no entanto, abre o caminho que conduz à verdadeira liberdade. Gurdjieff influenciou o mundo atual de três maneiras distintas. Diretamente, através da tradição oral, formou discípulos que, por sua vez, formaram grupos e até hoje dão prosseguimento ao Trabalho. Foi desta maneira que ensinou o eneagrama. Indiretamente, de modo tão invisível e anônimo quanto os heróis da resistência francesa, suas sementes se infiltraram nas correntes ideológicas contemporâneas sobre o homem e o universo. Foi ecologista pioneiro, ao mostrar, no Raio da Criação, o lugar que o homem ocupa no organismo único da Vida Orgânica sobre a Terra. A simplicidade estonteante de suas explicações das leis que regem o mundo conquistou as mais arraigadas mentes científicas. Seus métodos para o trabalho sobre si, o autoconhecimento e o desenvolvimento harmonioso dos três centros do homem (mental, físico e emocional) deram novas e sólidas bases às modernas terapias psicológicas e a toda a nova ciência da auto-ajuda. A música especial, que compôs com Thomas de Hartmann, e as danças sagradas, coletadas de diversas fontes da Ásia Central e organizadas em um sistema, começam agora, cinqüenta anos após sua morte, a desafiar o anonimato. Sua terceira forma de influenciar foi por meio de livros. Escreveu uma obra única, a trilogia denominada “All and Everything” (Tudo e Todas as Coisas), cuja leitura recomenda que seja feita em determinada ordem, o que é compreensível, pois se trata de “literatura objetiva”, com um efeito intencional sobre o leitor. Sua terceira forma de influenciar foi por meio de livros. Escreveu uma obra única, a trilogia denominada “All and Everything” (Tudo e Todas as Coisas), cuja leitura recomenda que seja feita em determinada ordem, o que é compreensível, pois se trata de “literatura objetiva”, com um efeito intencional sobre o leitor. A primeira série dessa trilogia, “Beelzebub’s Tales to His Grandson” (Contos de Belzebu a seu Neto[1]), em três volumes, é extensa e complexa. Escrita sob a forma de escrituras sob um véu exterior de ficção científica, e com muitas camadas de significado, exige e incrementa toda a nossa capacidade de atenção. A segunda série, mais fácil de ler e mais popular, “Meetings with Remarkable Men” (Encontro com Homens Notáveis[2]), é autobiográfica e alegórica, e serviu de base a um filme com o mesmo nome[3]. A terceira série, “Life is real only then, when 'I am'“, (A Vida só é real quando 'Eu Sou'[4]), inclui cinco conferências e um capítulo sobre o mundo exterior e o mundo interior do homem (The Outer and Inner World of Man), e termina inesperada e misteriosamente. |
[1] Editado no Brasil pela Editora Horus, em um único volume, 2004. [2] Editado no Brasil pela Editora Pensamento, 1981. [3] Dirigido por Peter Brooks, UK, 1979. [4] Editado no Brasil pela Editora Horus, 2004.
Fonte: "O Eneagrama, Símbolo de Tudo e Todas as Coisas, de Nathan Bernier." |